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BIBLIOTERAPIA EM SENIORIDADE


Introdução


A longevidade crescente inscreve-se num fenómeno novo nas sociedades pós-modernas. A educação aleada ao serviço social, enquanto promotores de cidadania, liberdade e desenvolvimento, não se pode alhear da atual realidade da senioridade, e com ela, a necessidade de ampliar a ação pedagógica e social a favor da aprendizagem permanente ou ao longo da vida.


A aplicação da biblioterapia, a par com demais técnicas, quer em espaços dedicados à prestação de cuidados a seniores[1] quer em espaços culturais[2], revela-se fundamental para o processo de reabilitação, desenvolvimento cognitivo, entretenimento e estimulação na senioridade. Estou, pois, a falar de espaços de diálogo assentes em pilares tão fundamentais como a promoção dos direitos das pessoas idosas e da consciencialização dos idosos acerca dos seus próprios direitos.


Porquê a biblioterapia?


Baseadas em sessões de leitura inclusiva e solidária, a operacionalização da biblioterapia surge de motivações comuns fundadas na importância do património imaterial resultante da historicidade das pessoas idosas, bem como da vontade de dar a conhecer o potencial humano das pessoas idosas institucionalizadas.


O que é a biblioterapia?


Socorrendo-me do trabalho de investigação de Ferreira (2017), biblioterapia é um espaço de terapia por via dos livros, sendo uma prática que utiliza obras literárias e a leitura enquanto auxílio aos indivíduos a lidarem com os seus problemas físicos e psíquicos, bem como tornar livre e coletivo os pensamentos, os sentimentos e as emoções. Outro aspeto importante prende-se com ao facto da biblioterapia despertar, através da leitura e da identificação (valendo-se das personagens que acabam por ativar a subjetividade dos leitores), sentimentos catárticos. Ou seja, a biblioterapia é colocada a favor das pessoas idosas no sentido em que estas se capacitam e empoderam fazendo-se valer dos seus direitos e de autonomia da vontade.


Os livros


Os livros são desde há séculos uma importante fonte de conhecimento e de entretenimento, contudo há agora uma nova função a considerar quando se pensa em romances, poesia, ensaios ou biografias: a saúde física e psíquica.


O texto


De destacar o facto de o texto funcionar “como objeto intermediário e como pretexto para o diálogo” (idem, ibidem: 19), sendo o texto o desbloqueador de novos sentidos, conceções, reflecções e entendimentos acerca das coisas, bem como um promotor do desenvolvimento do olhar crítico capaz de ampliar a visão de si mesmo[3], dos outros e do mundo que o rodeia.


Biblioterapia ≠ Psicoterapia


Sob pena de ocorrerem conflitos de interesses Ferreira (2017) clarifica que a biblioterapia se afasta da psicoterapia na medida em que “esta última se baseia na relação entre paciente e o terapeuta”, ao passo que a biblioterapia centra-se “no encontro entre o ouvinte e leitor, onde o próprio texto desempenha o papel de terapeuta e o diálogo entre vários participantes ajuda a atingir o bem-estar” (idem, ibidem: 19).


Benefícios da biblioterapia


Se considerarmos os benefícios da biblioterapia em termos gerais como “a fruição e o prazer e não a transmissão de juízos de valor ou de meros ensinamentos (Ferreira, 2017: 23), no caso das pessoas idosas, nomeadamente as institucionalizadas, o leque é mais alargado. Destacamos então os seguintes benefícios de acordo com a recolha realizada por Barão Nobre (2018):

(1) atenuar o impacto das perdas que o envelhecimento acarreta;

(2) potenciar os ganhos trazidos pelo processo de envelhecimento;

(3) ajudar a passar o tempo e combater a monotonia;

(4) aliviar quadros de depressão e ansiedade;

(5) afastar pensamentos negativos;

(6) aliviar o stress, a tensão e a dor;

(7) dissipar o isolamento e a timidez;

(8) colmatar carências afetivas;

(9) mudar atitudes.


Efetivamente a leitura inclusiva através da biblioterapia assume o compromisso cívico de dar voz ativa às pessoas idosas institucionalizadas atenuando os efeitos negativos da parca existência de espaços/projetos culturais dedicados a estas pessoas. É por este motivo urgente fazer diferente e romper com ideologias que colocam os idosos institucionalizados no mesmo “saco conceptual” obrigando-os a participar em ações socioeducativas (comummente designadas de «atividades») que, na maioria dos casos, não privilegiam a sua historicidade e singularidade. E a biblioterapia aplicada às pessoas idosas institucionalizadas poderá, na maioria dos casos, fazer a diferença!


Biblioterapia como promotora de valores fundamentais


Por tal motivo, acredito em ações socioeducativas assentes no favorecimento e enriquecimento dos projetos de vida individuais dos seniores, em particular na reflexão coletiva acerca do outro. E aqui, a biblioterapia desempenha um papel fundamental uma vez que os seniores transmitem e partilham as suas experiências e historicidade, sendo tendencialmente crescente a vontade em manifestar e verbalizar a sua opinião e a sua visão acerca dos textos e livros analisados e do mundo.


É necessário que os intervenientes se sintam à-vontade para expor o seu ponto de vista, para refletir acerca dos problemas e alegrias e traçar um paralelo entre as personagens e as suas vivências, tal como partilhar os seus medos com o biblioterapeuta ou com o grupo. Esta aprovação permitirá a cada sénior, por um lado rever-se no grupo e por outro lado continuar a construir a sua identidade (sempre inacabada).


Resumo


Em definitivo, acredito que a utilidade da biblioterapia fortalece a educação enquanto mecanismo promotor de cidadania e diálogo através da atualização e resignificação educacional (a manutenção da aprendizagem ao longo da vida tendo por base o ponto de vista dos seniores envolvidos) e do respeito pela diversidade (tornam os intervenientes mais tolerantes face ao outro). A ênfase da educação carimba a biblioterapia como uma fonte inesgotável de conhecimento dos idosos acerca de si próprios e do outro, sendo a aprendizagem permanente e mútua o elemento axial que determina o seu sucesso.


BIBLIOGRAFIA


BARÃO NOBRE, Sandra (2018). https://abiblioterapeuta.com/ (Consultado a 1 de maio de 2018) em: https://abiblioterapeuta.com/2017/07/06/a-importancia-de-ler-em-voz-alta-para-os-mais-velhos/


FERREIRA, Carmen Zita (2017). Biblioterapia aplicada a idosos: Um novo desafio para as Bibliotecas Públicas Portuguesa. Dissertação de Mestrado não publicada, Lisboa, Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias.




[1] Comummente designado de «Lar de Idosos».


[2] Exemplo: livrarias, bibliotecas, museus.


[3] Ferreira (2017) alerta que as sessões os biblioterapeutas não podem ter a pretensão de levar os intervenientes a conhecerem-se a si mesmos, cabendo a cada participante, individualmente, decidir se deseja ou não refletir acerca das suas atitudes num paralelo com o texto literário e/ou as personagens nele contido.


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