Eu participo, mas tu decides
Conjugar o verbo ‘participar’ em contextos onde a intervenção se baseia no ato cuidativo às pessoas idosas torna-se, na maioria das vezes, uma autêntica falácia. No Plano de Atividades consta enquanto objetivo de ação a “participação ativa dos beneficiários”, embora a realidade nos diga que esse é um propósito dificilmente operacionalizável a propósito da rigidez e paternalismo que, grosso modo, envolve a ação destes espaços. Quando o cuidado às pessoas idosas privilegia a garantia da segurança e da proteção e menos da liberdade e da autonomia, estamos perante um contraciclo cuidativo. Enquanto o cuidado às pessoas (mais velhas) se centrar em práticas baseadas naquilo que achamos ser melhor para nós, e não naquilo que os visados entendem ser melhor para eles acharemos sempre que o verbo ‘participar’ se conjugará da seguinte forma:
Eu participo
Tu participas
Ele/Ela participa
Nós participamos
Vós participais
Eles/Elas decidem
Torna-se apetecível, porque dá menos trabalho, mas também se torna perigoso e criminoso desenhar ações, formas de agir profissional e políticas assentes no alto daquilo que nos parece mais acertado sem que convoquemos aqueles que serão os verdadeiros visados.
Neste sentido, dizer e escrever enquanto objetivo “promover a participação ativa dos beneficiários” fazendo destes “estar em” ao invés de “fazer parte da construção de” dará alimento a práticas castradoras dos direitos fundamentais.
Sirvamos apenas de mediadores e tornemo-nos invisíveis! Dessa forma conjugaremos na perfeição o verbo ‘participar’:
Eu participo
Tu participas
Ele/Ela participa
Nós participamos
Vós participais
Eles/Elas participam
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