top of page

Lançamento do livro "Intervenções e mediações em Idosos"

[palavras usadas no dia 4 de novembro, 14h30 no Palácio Sacadura Botte, em Coimbra-Portugal, a propósito do lançamento do livro "Intervenções e mediações em Idosos"]

Boa tarde a todos e a todas!


Quero iniciar a minha intervenção por agradecer à Prof. Doutora Clara Cruz Santos pelo convite que me endereçou e à Prof. Doutora Joana Guerra pela nomeação do meu nome para estar aqui presente.


É um gosto e uma imensa honra celebrar este momento com pessoas tão distintas e talentosas.


Falar de um tema que me é tão caro e que tanto me instiga permite-me não apenas crescer e aumentar o meu m², como também ousar humildemente contagiar aqueles e aquelas que acreditam ou desacreditam nos desafios advindos do perfil demográfico contemporâneo.


Partilhar o meu sentir acerca do envelhecimento e das velhices tem-me trazido ganhos absolutamente incríveis. Estar neste lugar hoje é um desses ganhos!


Para hoje foi-me pedido para tecer algumas considerações acerca da obra “Intervenções e Mediações com Adultos Idosos”, em particular da parte 2 “Políticas e Respostas Sociais para uma Nova Velhice”. Nele são trabalhadas as Políticas, respostas e medidas sociais direcionadas ao envelhecimento.


Ao percorrer o livro, em específico esta parte, tocou-me particularmente a audácia e o rasgo das autoras quando, por exemplo, colocam a tónica nalguns dos aspetos centrais norteadores do pensamento do social no campo da Gerontologia e da Geriatria:

a) O envelhecimento da população que leva a que as velhices constituam matéria de análise privilegiada nas ciências sociais e humanas e da saúde, bem como nas políticas públicas;

b) A emergência da reconfiguração das políticas sociais a propósito da heterogeneidade do processo de envelhecimento e de como distintamente se experiencia a velhice;

c) A relevância do construto do EAS enquanto matriz de pensamento e atuação da ciência e das práticas;

d) A existência de um projeto comum às sociedades desenvolvidas assente nos direitos humanos e no desenvolvimento social e económico sustentáveis.


Estes aspetos obrigaram-me a colocar algumas questões. Por exemplo:

1) Conseguem as respostas sociais dedicadas às pessoas idosas e os poderes instalados adaptar-se às exigências, aos contextos e ao tempo e espaço dos “novos velhos”?

2) Como conseguirá a ciência, isto é, os quadros teóricos que apelam com fulgor à particularização e à humanização da prestação de cuidados às pessoas idosas perpassar a cartilha, nalguns casos impenetrável, das práticas cristalizadas e “mercadorizadas”?


Não podendo destacar uma única forma de responde às questões, as autoras procuram lançar pistas à reflexão.


Mónica Teixeira diz-nos que os Centros de Dia foram uma resposta vanguardista naquilo que à participação ativa e o elogio às competências e talentos das pessoas idosas num espaço aberto e comum diz respeito. Atualmente, os Centros de Dia tornaram-se locais pouco apetecíveis quer para a ciência (ocorrendo uma ausência de investimento no estudo/investigação destas respostas), quer para a pessoas idosas e famílias por se tornar uma opção obsoleta face às competências e necessidades dos públicos a que se destina. A autora apela à reflexão sobre a urgência de reorganização dos serviços conducentes com os “novos idosos”.


Joana Vale Guerra começa por dizer que envelhecer no século XXI significa uma celebração e um desafio. Efetivamente é disso que tratamos, creio que concordarão. As velhices devem ser vistas de forma imersiva e enquadradas num contexto, tempo e espaço específicos. É deste vasto leque de leituras, desta polissemia de significados que reside a complexidade inerente à fase mais tardia da vida. No entanto, o poder político português tem sido pouco corajoso na forma como trata a agenda do envelhecimento e das velhices. Atualmente sabemos três coisas:

1) Portugal é um dos países mais envelhecidos do mundo;

2) A esperança média de vida à nascença e a esperança média de vida aos 65 anos assume um perfil ascendente;

3) Em 2017 17% da população idosa estava em risco de pobreza após transferências sociais.


Bom, não serão estes aspetos suficientes para agitar as águas, algo paradas, e colocar na agenda política portuguesa de ontem, de hoje e do futuro matérias relacionadas com o envelhecimento e as velhices?


Naquilo que à saúde diz respeito, um melhor funcionamento das políticas de saúde para o envelhecimento hoje, reverterá, inequivocamente, em melhorias na qualidade de vida das pessoas que experienciam a velhice atualmente, bem como aquelas que serão velhas no futuro. E os velhos do futuro, espantem-se, serão os nossos entes queridos. Seremos nós! E estou em quer que nesta sala ninguém quererá morrer novo, nem sequer viver a velhice como a maioria dos velhos de hoje – pobres, com poucos apoios formais e sem projetos de futuro.


Como refere esta autora, a Rede Nacional de Cuidados Continuados Integrados e o Complemento Solidário para Idosos ilustram uma nova geração de políticas sociais públicas tentadas a aliviar o odor bafiento de décadas de desinvestimento e inoperância. Também é bem verdade que a mesma autora refere o sentido estratégico das novas políticas de saúde realçando por um lado que estas procuram o empoderamento do cidadão na saúde e por outro lado a existência de uma cultura de privatização de um setor que deveria ser tendencialmente universal e acessível a todos.


Joana Vale Guerra abre caminho a uma reflexão distintiva não somente sobre a urgência em melhorar a compreensão acerca dos processos de envelhecimento com todos os seus determinantes, como também acerca dos ganhos que poderão arrecadar as políticas públicas de saúde se apostarem em lógicas preventivas, integrativas e diferenciadoras.


Por fim, Helena Reis Amaro da Luz e Isabel Cerca Miguel autoras do capítulo “Cidadania ativa numa sociedade envelhecida: O voluntariado sénior” convocam três ideias que mereceram a minha atenção:

1) O lugar de evidência que o trabalho representa como um elemento estruturante no contexto societário atual;

2) O voluntariado sénior como um mecanismo de destaque na ativação das pessoas idosas (trazendo inúmeros benefícios aos próprios, aos coletarias e às entidades que acolhem estas pessoas), confirmando a operacionalização do modelo do EAS;

3) A cidadania desempenha um lugar de relevo na valorização do amplo contributo social e económico da população idosa.


As autoras desocultam dados constrangedores. Em Portugal o voluntariado sénior tem pouca expressão (apenas 6% dos idosos em PT participam em atividades formais de voluntariado sénior), contrastando com outros países como a Islândia, a Suécia e a Holanda (com médias entre os 60% e os 50%). Este aspeto coloca frente a frente duas variáveis tão consensuais quão perturbadoras: Uma diz respeito ao facto comprovado de o voluntariado sénior contribui, claramente, para inverter a ideia estereotipada do envelhecimento/velhice; outra, bem diferente, decorrente dos dados referidos há pouco, e tem que ver com o facto de existirem poucos voluntários seniores, dificultando a tarefa de desmistificar a ideia que ser-se velho é ser-se inútil e improdutivo. Precisamos de mais pessoas idosas que deem corpo ao slogan “juntos somos mais fortes” e “não à direitos sem responsabilidades”, mas para tal acontecer as pessoas idosas têm de querer ser incluídas e nós, enquanto sociedade, temos de aprender, uma vez por todas, a incluir.


Por fim, arrisco a deixar-vos 5 razões para adquirir esta obra:

1) O século XX foi o século da Pediatria. O século XXI é o século da Gerontologia. Por tal razão está tudo por descobrir – tratamos de um fenómeno novo e em evolução. Nesta medida, embora a bibliografia seja extensa e atual, esta obra vem preencher um espaço de vazio naquilo que é a forma como se pensa o envelhecimento e as velhices.

2) Deixa-nos pistas e referências conducentes a lógicas de pensamento e atuação alinhadas com os pressupostos do Envelhecimento Ativo e Saudável.

3) Para os mais céticos, esta obra prova a relevância do conhecimento científico/académico aplicado e implicado na prática e nas práticas gerontológicas, geriátricas e das políticas sociais. Investe no desenvolvimento de pistas baseadas em conhecimento científico de fácil compreensão a todos sobre os fatores que podem melhorar a esperança de vida saudável aos 65 anos.

4) Permite-nos desocultar um olhar vanguardista que rompe com o olhar tradicional sobre o envelhecimento, sobre as políticas e medidas sociais que teimam em manter-se perante uma população que é considerada erradamente, uma população homogénea.

5) Faz um claro apelo à diversidade de perfis de envelhecimento. Assim, garantir-se-á a redução das desigualdades e elimina-se fatores de risco de natureza comportamental a social.


Por tal razão, não hesitem. Adquiram a obra. Por certo que vocês e o vosso m², e todos nós, sairão a ganhar.


Espero que estas palavras possam ter honrado a qualidade incontornável desta obra.


Obrigado!


PODE DESCARREGAR GRATUITAMENTE O LIVRO ATRAVÉS DO LINK:


SAIBA + ACERCA DESTA E DE OUTRAS OBRAS EM:

Posts Recentes
Arquivo
Siga-me
  • Facebook Basic Square
bottom of page